segunda-feira, 31 de julho de 2017

DISTÂNCIA ENTRE A VOZ DO GOVERNO E A REALIDADE DOS GOVERNOS - POR LUIZ SAUL


Para compreender as contradições do picadeiro, não basta inteligência; é indispensável magia, consulta aos búzios, reza braba e longos retiros de reflexões.
Começa pelos índices de desemprego, que, segundo os dados oficiais, foi reduzido em 500 mil vagas, mas não aludem à informalidade e ao subemprego que são as marcas destes tempos bicudos. A frieza dos dados serve para moderação momentânea, otimismo conveniente, escape de argumentos, propaganda política, mas está longe de retratar a realidade dos desiludidos em busca de uma colocação formal e digna. A iniciativa privada é profissional, e por isso não embarca nas miragens que embalam o governo.
Em seguida, vem a coisa dos juros em que a taxa básica SELIC – que é o referencial do custo do crédito – segue na espiral de queda, com mais 1 ponto percentual de baixa, mas os juros bancários crescem ou, no mínimo, mantêm o mesmo patamar, como fator de garantia do lucro e prevenção da inadimplência. Corresponde, portanto, ao descrédito nos dados oficiais e no andamento da economia, pelo menos por enquanto.
Tem também a inflação, considerada como a mais baixa dos últimos anos. Ocorre que as principais auditoras nacionais desse quadro, ou seja, as donas de casa, não foram consultadas e dificilmente concordarão com tal informação, especialmente quando vão às feiras e aos mercados, mercadinhos e atacadões e se defrontam com a realidade de reduzir as compras de víveres para ajustar o orçamento doméstico.
Tudo isso com muita razão, especialmente depois do aumento dos impostos sobre os combustíveis que replicará em efeito cascata em todos os preços de um país transportado em pneus. Além do que virá em seguida a majoração do preço da energia elétrica que não corresponderá apenas à sobretaxa pelos quilowatts consumidos, como se informa; parecem esquecer que tem também o ICMS incidindo sobre o preço ao consumidor e os demais penduricalhos que costumam acompanhar essas medidas. Inflação em baixa? Então tá então!
Para ajustar os desmandos atuais e anteriores, e enquadrar a economia em um limite de déficit orçamentário, corta-se o PAC, valendo dizer que se investe no desemprego com a paralisação de obras e a redução de um programa vitorioso (neste caso, com os méritos do PT), cuja retomada ninguém garante. Não vale posar de herói da economia quando se está falando de déficit, porque isso importa e confirma a tradicional má administração da coisa pública e a ausência de visão perspectiva dos perigos que rondam a responsabilidade fiscal.
Essas contradições e outras que estão sempre presentes tendem a desmentir na visão da sociedade os rompantes governamentais de retomada do progresso, e, mais que isso, expõe as relações à eventualidade de convulsões. Basta notar, a propósito, o movimento que se encontra embrionário dos caminhoneiros que, diante da regressão dos seus negócios depois do aumento dos combustíveis sem correspondente reajuste dos fretes, estão articulando uma paralisação nacional que, aí sim, representa um perigo sem precedentes aos projetos de normalidade, dependendo da sua duração. Esses são inimigos poderosos e com bala de canhão na agulha!
Há muita distância entre a voz do governante e a realidade dos governado



Por: Luiz Saul Pereira 
        BRASÍLIA - DF

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