sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

CHEGA A PARECER NORMAL, MAS NÃO É... POR LUIZ SAUL


Presídio de Pedrinhas superlotação e força do crime organizado

Ano Velho, Ano Novo, e somente se agrava a desintegração da imagem do país internamente e perante o concerto internacional. O enorme estoque de escândalos de natureza variada é desvendado a cada novo olhar. 

No momento, é a vez da crise carcerária que andou superada nas notícias por indecências outras, mas que jamais perdeu a gravidade. Nosso incomplacente retrovisor testemunha por todo o tempo o estigma da crueza da sobrevida carcerária com os exemplos, além de tantos outros, passam por Pedrinhas, em São Luís, e “glorificam-se” em Carandiru, em São Paulo. 

O caso de Manaus causou cerca de 70 mortes na guerrilha interna na qual não houve mártires, mas apenas baixas na criminalidade. Tudo dentro do esperado de um país habituado a esquecer seus infratores em depósitos de zumbis até que aperfeiçoem o viés de perversidade. Pior que isso, este mesmo país é aquele que confere certificado de comando e propriedade de suas penitenciárias a bandos organizados que recebem o metafórico e quase varonil apelido de facção. Aí então, a imprensa e a população seguem repetindo o nome de cada uma dessas facções como a consolidar a sua certidão de poder e existência.

Para quem acompanha o noticiário a respeito do assunto, não haverá de passar despercebida a aura que envolve criminosos de toda espécie do Brasil, muitos dos quais de identidade perfeitamente conhecida e decantada, que, apesar de encarcerados, já foram transformados em lenda pelo poder, pela sagacidade estratégica, pelo dinheiro acumulado, e pelas relações com a criminalidade ou forças revolucionárias internacionais, como já se comenta. 

Como sempre acontece, em momentos de comoção como este de Manaus, os políticos correm para os microfones e holofotes, somente enquanto dura a reverberação da crise, apresentando soluções, aporte de verbas, construção de novas prisões, intercomunicação dos órgãos de segurança, teses de ressocialização, e vai por aí até que o assunto e as intenções se diluam no tempo, na espera do próximo fracasso. Nesses mesmos momentos não faltam as mútuas acusações de omissão, onde cada qual acusa o outro cada qual. Está acontecendo agora.

Na outra banda, sempre aparecem as denúncias de relações intimidade entre as forças dos chamados internos com as elites dos executivos, dos legislativos e também dos judiciários. Não faltam comentários de “acordos” entre detentos e autoridades como garantia de paz, ou de interrupção de agressões aleatórias à sociedade determinadas a partir do ambiente interno das cadeias. A ser verdade tais boatos será natural compreender o medo que as cadeias impõem aos políticos, não só pela chantagem da pacificação, mas principalmente pelas denúncias de eventual apoio eleitoral e financeiro à eleição de alguns deles. Também está acontecendo agora.

Enquanto isso, começa a expectativa da replicação de motins em outros Estados, como já aconteceu na Paraíba, já contando com dois detentos mortos e dois feridos. É um perigoso e sintomático sinal do “por enquanto”.

Nada pode ser demais para compreender as extravagâncias nacionais quando um vereador vai à sua posse algemado; um prefeito preso faz vaquinha para pagar a fiança para ir à posse; outro, que se encontra foragido da Justiça; outro prefeito entrega, em Diário Oficial, a solução dos problemas da municipalidade a Jesus Cristo; outro, renuncia do cargo e depois, renuncia da renúncia, sem falar nas bobagens e demagogias de quem pede a namorada em casamento na hora da posse, ou quem chega de bicicleta, vestido a rigor sob 40°.

Chega a parecer normal, mas, não é.


Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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