segunda-feira, 27 de junho de 2016

A RECOMPOSIÇÃO MORAL DAS PRÁTICAS POLÍTICAS E O PACTO FEDERATIVO - POR LUIZ SAUL




Se eu tivera um clube exclusivo travestido de mansão, mas classificada como cadeia, em nobre cidade praiana, quisera também purgar pena nesse calabouço de 6 ou mais estrelas, pagando transferências financeiras que irregularmente fizera da Transpetro para um londrino filho e para algumas das ascendências decadentes da política nacional. 

Foi assim que o Sérgio Machado se industriou, em conluio, ou não, para construir uma delação recheada de ciladas e traições, as quais – pendentes de provas, mas incendiárias – denotam um rasteirar moral sem precedentes, ainda que contribuindo para trombetear o sistema criminoso que capturou o país. 

Em que pese a mendicidade moral e ética que tem redefinido figuras antes proeminentes que agora nos mortificam, é importante que nos deixemos fidelizar aos sinais de otimismo que têm aparecido, ainda que remotos. 

Notem, por exemplo, o virtual abandono da antiga tropa de choque da ex-presidente na Comissão do Impeachment. A puerícia dos seus senadores tem-nos estimulado nas teses risíveis de conspirações de golpe e outras cansativas repetições, mas, nos bastidores sabem que estão apenas cumprindo os prazos constitucionais da espera da degola. Não há heroísmo, e só os move a montagem de palanques individuais para campanhas futuras, sendo até de notar que, no caso da Gleisi Hoffmann, a questão será de sobrevivência depois da prisão do marido Paulo Bernardo.

Outro sinal visível parece estar no somatório de medidas assumidas por iniciativas ou inspirações do interino que parecem encaminhar a consolidação da sua permanência no cargo, até porque o retorno da “outra” parece impensável, ainda que estejamos em terras de convenientes e inexplicáveis impossíveis.

Mas, vale destacar sinais como a Lei das Estatais vetando a investidura de agentes políticos em cargos de quaisquer dos conselhos de sociedades de economia mista (estatais), além da inclusão de exigência de experiência nas funções ou, pelo menos, nos assuntos inerentes para o exercício de tais cargos. Não se encontra meios para medir a repercussão dessa Lei, uma vez que por tradição os provimentos dos cargos dividiram-se em cotas de políticos ou de indicação destes.

Outro sinal tendente a consolidar o interino alude à austeridade da composição do seu ministério (especialmente na área de planejamento e de economia) aliada ao pragmatismo e à instantaneidade com que realizou as substituições daqueles mencionados em notícias de irregularidades.

Aliás, é importante consignar que até nos momentos de fraqueza do interino as circunstâncias têm-no beneficiado. Com efeito, os observadores componentes do PIB e muitos políticos momentaneamente travestidos de apoiadores já perceberem que o presidento tem baixíssima resistência a uma batida de pé, a um grito, a uma exigência. 

Foi com essa percepção que os governadores o encurralaram, enfiando goela abaixo do Planalto a negociação para o elastecimento do perfil das dívidas de cada Estado, privando o Tesouro Nacional do recebimento de cerca de R$50 bilhões, neste momento de crise. Noutras ocasiões esse tipo de renegociação compunha-se de sangue, suor e lágrimas. Mas, com o Palácio aberto a negociações, o Temer saiu-se como o estadista receptivo às soluções dos problemas estaduais, e, mais que isso, se credenciou para renegociar o pacto federativo que dorme em tantos papéis e gavetas mil. 

Resulta que, se, por um lado, tem-se um Sérgio Machado, citado no início, demonstrando a sua capacidade de burlar as leis, trair os parceiros e “pagar” as falhas em um pequeno paraíso social por ele edificado provavelmente com dinheiros públicos, por outro lado, parece que se contrapõem claros sinais de recomposição moral das práticas políticas do país moreno.

Mas, muita coisa ainda acontecerá para orientar as operações e explicar esta Terra.




Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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