terça-feira, 21 de abril de 2015

HOMENAGEM AO ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA - 55 ANOS DA CAPITAL FEDERAL DO BRASIL

Impossível é dar errado



Não faltou quem duvidasse que o cerrado teria um lago artificial. Nos registros históricos dos primeiros anos da nova capital do País, consta que o engenheiro, escritor e pensador Gustavo Corção desacreditava que o terreno poroso fosse capaz de transformar o seco no mar brasiliense. Quando, enfim, o espelho d'água se formou, Juscelino Kubitschek mandou ao homem um telegrama com apenas duas palavras: “Encheu, viu?”.

Se Corção não acreditava que a façanha seria possível, imagine se alguém lhe dissesse que se transformaria em um dos principais polos de turismo e esporte de Brasília? É certo que a água, por um tempo, ficou imprópria para banho. 

A década de 1990 foi difícil para o Lago Paranoá. As estações de tratamento sufocaram, não conseguiam tratar a água e o mau cheiro tomou conta do lugar, junto com a fauna morta e a água poluída. Chegou a um ponto em que centenas de peixes mortos boiaram. Hoje, o cenário é oposto, e o lago respira saúde. 

Os surfistas do Lago Paranoá já foram protagonistas musicais, mas são os praticantes de stand up padlle que tomam conta do lugar. A Praia do Cerrado, próximo à ponte Costa e Silva, tem até areia digna de um ponto do litoral brasileiro. Sérgio Marques, 35, organizador de um projeto que visa associar esporte e natureza, cresceu na beira do lago e viu de perto a transformação. 

“Eu matava aula para nadar, pescar. Naquela época diziam que não podia, que fazia mal, que não era saudável. Aos oito ou dez anos, eu estava na beira do lago quando passou uma viatura pedindo para sair”, lembra, emendando que “hoje o lago respira saúde”. 

Para ele, a realidade de sempre ter alguém praticando esportes e aproveitando o recurso que, antes, era considerado errado é uma conquista. “É preciso, também, cuidar para que não aconteça o mesmo que no passado”, pondera.

Não  rola nada na cidade. Oi?



É bem verdade que não se veem tantas pessoas caminhando pela Esplanada dos Ministérios durante feriados e fins de semana – a menos que haja alguma manifestação. As distâncias são longas e os grandes quadradões de concreto podem afastar os andantes. Mas a cidade não morre. Não mais. Hoje, diversos eventos transformam o deserto em um mar de gente.

Miguel Galvão, organizador do evento Picnik, que vai para a 17ª edição, acredita que “durante muito tempo, as pessoas estavam acostumadas a interagir na zona de conforto, próximo a elas. Hoje, com as mídias sociais e sua pulverização, fica muito mais fácil saber de outras coisas que estão acontecendo na cidade”, afirma.

Para ele, as próprias pessoas que gostam da cidade manifestaram uma insatisfação à ociosidade brasiliense e decidiram organizar o que fazer durante os períodos vazios. “O Picnik surgiu assim”, conta. “Há três anos, esse tipo de evento não existia. Não tinha uma ocupação voltada para o comportamento saudável”, emenda.

“Não é verdade que não tem nada pra fazer em Brasília”, assegura Irlan Rezende, organizador do Samba do Banquinho, que leva uma roda musical ao Parque da Cidade. “Há 20 anos, quando cheguei, era uma cidade fria, mas hoje tem bastante entretenimento, muita cultura. As pessoas podem até ficar no marasmo, mas é só procurar que encontram”, aconselha ele que, hoje, diz que não voltaria a morar no Rio de Janeiro, sua cidade natal.

Cidade só de servidores? Não aqui...

Que atire a primeira pedra o morador de Brasília que nunca foi questionado sobre serviço público. Mas quem atribui à cidade o rótulo de maior centro do serviço público do país está enganado. Nos últimos dez anos, o número de servidores aumentou 43% na capital. Mas é o Rio de Janeiro que tem a maior concentração. Estudo publicado em 2012 pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) mostrava que tínhamos metade das cadeiras da antiga capital.

Pesquisa de 2013 da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) colabora para a quebra do clichê: servidores públicos distritais e federais são 22% da população do DF, mais de 328 mil pessoas. Além disso, apenas 1,81% têm menos de 25 anos, segundo um estudo elaborado pela Escola de Governo do Distrito Federal (Egov).

O professor Gabriel Lenzi, 31 anos, foge ao rótulo de brasiliense focado no serviço público. Ele até já foi assim, piolho de cursinhos. “Para ter estabilidade”, admite. “Mas, dentro de mim, sempre quis ser empreendedor, ter liberdade, poder tocar projetos”, emenda. “Eu tinha medo da instabilidade, mas, no fundo, pensava que não era o que eu queria. ”, lembra. De um dia para o outro, a ficha caiu. A aula particular que dava na casa das pessoas deu lugar a uma sala de aula na Asa Sul, onde atende seus alunos. “Tem que saber que você pode, você é capaz. Como empreendedor é possível inovar”, conclui.


É linda
“Brasília não é uma cidade má”, avalia o poeta Nicolas Behr, que considera que os clichês e rótulos que atribuem à cidade ocorrem como em qualquer outra. “É o que os de fora pensam”, explica. Mas, mesmo assim, ele ressalta que “a cidade é nossa e temos uma relação de paixão com Brasília - uma mistura de amor e ódio”. Apesar de “umbilicalmente ligada ao poder”, ele, que diz que não trocaria a capital por outro lugar, acredita que se vive independentemente disso. E diz mais: “Aqui, só vive sozinho quem quer. Mas muita gente ainda vive na ilha da fantasia, isolados no Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, que não saem das ilhazinhas, mas Brasília é linda”. E isso  é mais que um paradigma.



Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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