Um bom resumo do que vai pela cabeça dos empreiteiros presos pela
Operação Lava-Jato está em um manuscrito de seis folhas de caderno
obtido por VEJA. Ele foi escrito pelo engenheiro baiano Ricardo Pessoa,
da UTC Engenharia. VEJA confirmou a autoria do documento por meio de um
exame grafotécnico feito pelo perito Ricardo Molina, da Unicamp. É a
primeira manifestação de um integrante do clube do bilhão desde a
prisão. O documento contém queixas contra os antigos parceiros de
negócios e ameaças veladas a políticos. Em um dos trechos, o empreiteiro
liga os contratos sob suspeita assinados entre as empreiteiras e a
Petrobras ao caixa de campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff.
Nas entrelinhas do manuscrito fica evidente o desconforto dos
empreiteiros de estarem sendo, pelo menos até agora, os bodes
expiatórios da complexa rede de corrupção armada na Petrobras. Eles têm
razão. Nas denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal e
aceitas pelo juiz Sergio Moro, o esquema de corrupção na Petrobras
parece ser apenas o conluio de empreiteiros gananciosos com meia dúzia
de diretores venais da Petrobras. Nada mais longe da verdade. Como Paulo
Roberto Costa revelou com toda a clareza, tratava-se de um esquema de
desvio de dinheiro para partidos e campanhas políticas organizado pelo
partido no poder, o PT.
Entende-se, portanto, a insistência de Ricardo
Pessoa em lembrar que em sua concepção e funcionamento o esquema na
Petrobras era político. As empreiteiras entraram como a solução para o
problema de como entregar o dinheiro aos parlamentares e candidatos da
base aliada do governo do PT.
Pessoa cita nominalmente o tesoureiro do comitê de Dilma Rousseff, o
deputado petista Edinho Silva (SP): “Edinho Silva está preocupadíssimo.
Todas as empreiteiras acusadas de esquema criminoso da Operação
Lava-Jato doaram para a campanha de Dilma”. Arremata com outra pergunta
desafiadora, referindo-se ainda ao caixa do comitê eleitoral da
presidente: “Será se (sic) falarão sobre vinculação campanha x obras da
Petrobras?”. O empreiteiro faz chiste com o que já foi descoberto até
agora e afirma que o volume de dinheiro desviado na diretoria de Paulo
Roberto Costa é “fichinha” perto de outros negócios da Petrobras que
também teriam servido à coleta de propina.
Petrobras criou rede de empresas paralelas
A Petrobras criou uma rede de empresas para executar obras de grande
porte sem se submeter a fiscalização mais rigorosa de órgãos de
controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU). As chamadas
sociedades de propósito específico (SPEs) são um instrumento legal,
existente para captação de recursos no mercado por meio de empresas
independentes da companhia. Auditoria do TCU, porém, alerta que o modelo
adotado pela estatal pode criar precedentes e resultar numa “expansão
descontrolada”.
Demonstrações contábeis a partir de 2005 mostram que a Petrobras já
constituiu 24 SPEs, com investimentos de pelo menos US$ 21,9 bilhões, ou
R$ 59 bilhões – muitos deles para obras como gasodutos, plataformas,
refinarias e transporte de óleo. Auditoria sigilosa apontou que em uma
das SPEs, para construir a rede de gasodutos Gasene, há indícios de
superfaturamento de até 1.800%, como revelou o jornal O Globo.
Ao lançar mão de uma empresa privada a estatal se vê livre do
escrutínio a que é submetido o restante do governo federal. Nos debates
sobre a fiscalização dos gastos públicos, a Petrobras costuma argumentar
que os seus negócios têm caráter privado. A Petrobras não respondeu à
reportagem.
Fonte:
veja.abril.com.br
veja.abril.com.br
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