SOMOS UM POVO HONESTO E DE ÍNDOLE

É uma grande mentira dizer que o povo brasileiro é corrupto. Isso não passa de um discurso falso para amenizar os escândalos mastodônticos que estamos vendo nos últimos tempos. No entanto, há aqueles que procuram disseminar essa ideia (ideia não, patifaria) como se fôssemos ingênuos.

O brasileiro comum, ao achar uma carteira cheia de dinheiro e com documentos, procura devolvê-la ao seu dono sem nada subtrair. Quando um caixa de banco se engana e lhe dá algumas cédulas a mais, prontamente as devolve. Também, uma parcela considerável das pessoas não estaciona em lugares destinados a idosos ou a deficientes físicos, e por aí vai. Esse é o perfil de nosso povo! Mas por que ele age assim? Porque é honesto e de boa índole; sabe que se proceder de modo diferente estará prejudicando terceiros.

Agora, esse mesmo indivíduo, quando o guarda constata que o extintor do carro está vencido, paga-lhe a cervejinha (embora esse não seja um procedimento corriqueiro como alardeiam, é bom que se diga). Tanto ele quanto o policial sabem que seria uma tolice apreender o veículo, ou criar caso, por uma besteira. O trocado que dá ao guarda é encarado por ambos como se fosse uma gorjeta pela compreensão e gentileza prestada, e não como um suborno. Esse cidadão também não hesita em pagar uma consulta médica com desconto e sem recibo. Igualmente, tem ciência de que tanto o médico quanto ele próprio pagam tributos escorchantes e, diga-se de passagem, sem ter o adequado retorno por parte do Estado (se houvesse, consultaria no SUS, gratuitamente). 

E se ele só dispusesse do valor exato da consulta? Por que deixaria de ir ao médico por causa de um desconto e da falta de um recibo? Só para prejudicar a si próprio? Vamos supor que ele acredite que o correto seja pagar um valor maior e exigir o recibo, a fim de evitar sonegação fiscal e, por conta disso, não vá ao doutor. Do ponto de vista econômico, nada mudou, apenas o dinheiro em vez de ir para a mão do médico permanece na dele. A quem ele prejudicaria se fosse ao médico? Prejudicaria ao Estado, que, verdade seja dita, só entra nesse circuito para se beneficiar.

Mas o cidadão comum que está com o dinheiro contado não pensará nessas coisas e irá ao médico, porque a lógica dele consiste em evitar causar qualquer prejuízo a terceiros por menor que seja; no entanto, age de modo a não causar dano a si próprio, desde que a sua ação não prejudique outra pessoa. Ademais, está cansado de tanta corrupção e de ver o tributo que paga ser mal aplicado e desperdiçado pelos governos. Espere! Faltou mais um argumento. Mas, então, o que dizer de um síndico de prédio que superfatura capacho? Ora! Esse é corrupto mesmo! Dê-lhe poder e oportunidade que ele se aproveitará para roubar. No entanto, o brasileiro em geral não é gente dessa laia.

Pois bem, para finalizar, acho que deu para se perceber que é forçar demais a barra querer tornar a nossa sociedade corrupta com base nos argumentos apresentados por aqueles que pretendem, por certo, tirar o foco da roubalheira da Petrobras. Não por acaso, mas possivelmente devido a fatores ideológicos, esse pessoal condena o cidadão de bem por ninharias, no entanto, defende os mensaleiros e os corruptos do petrolão, como se esses criminosos fossem inocentes e injustiçados, transformam-nos até em heróis. E pode notar, essa turma, em geral, não tolera discordâncias e é a mesma que vê bandidos como vítimas sociais e, talvez, se considere um exemplo de bondade e, por outro lado, o julgue um ser humano cruel, insensível às causas sociais. Sinistro! Não?

Por: Ednaldo Bezerra - Escritor