sábado, 12 de abril de 2014

ARTIGO SOBRE EDUCAÇÃO - LICENCIATURA EM MATEMÁTICA NA UFRPE DEVE CONTINUAR?


A educação no país vai mal; todo mundo sabe disso. Nos ensinos fundamental e médio, além da infraestrutura precária das escolas públicas, há carência de professores de Português, Matemática, Química, etc. Mas por que isso ocorre se existem tantas faculdades pelo Brasil afora?
Conversando, aqui em Recife, com alunos do curso de Licenciatura em Matemática da UFRPE, por exemplo, soube que, de uma turma de quarenta estudantes que se matriculam, formam-se apenas dois ou três, após transcorrido o tempo de duração do curso. Como pode?! – Fiquei estupefato. Incrédulo, fui consultar o “UFRPE EM NÚMEROS 2012”. Tomei por base o dado mais recente para ter uma ideia aproximada do que está acontecendo, e consta que no 2º semestre ingressaram setenta alunos e formaram-se onze (quantos anos será que esses onze levaram para se formar?).
Seja lá como for, a situação é preocupante. Há sem dúvida algo errado. Não sei bem por que, isso até me fez lembrar dos meus tempos de colegial. Havia um professor que vendia dificuldades, pagava mistério, como se diz na linguagem popular. Ensinar que é bom, passava ao largo. Fingia dar aula, apresentava intermináveis listas de exercícios e deixava a gente quebrar a cabeça, ou seja, não cumpria satisfatoriamente a função a que estava sendo pago.
No primeiro bimestre, mais da metade da minha turma tirou nota inferior a cinco. Alguns estudantes, desmotivados, começaram a deixar de assistir às aulas. Fomos à diretoria e denunciamos o mestre. Aparentemente, o diretor não nos deu ouvidos. Mas depois de algumas semanas, o professor foi demitido. Soubemos posteriormente que a direção havia instalado uma câmara na sala de aula, sem que ninguém a percebesse. Resultado: a tecnologia constatou que a incompetência era mesmo do educador.  
O mais grave é que, além das aulas desestimulantes, ainda tentava nos impor a sua ideologia. Considerava-se um facilitador e era contrário ao repasse de conhecimento – à educação bancária, no dizer de Paulo Freire. Espantei-me quando o vi, tempos mais tarde, ensinando numa escola pública, dando aula a meia dúzia de alunos. Aí, tive que dar razão ao padre do colégio que, com a voz rouca, nos dizia: “Mas essa gente é assim mesmo, quer viver na mordomia, quanto menos esforço melhor (imagine uma sala de aula com seis alunos); esses camaradas se julgam indispensáveis à sociedade e defensores dos fracos e oprimidos...”.
Mas, deixando o passado de lado e voltando aos tempos atuais, a maioria das pessoas há de concordar que um curso de Licenciatura em Matemática não se destina a formar uns gatos pingados que concluem o curso por sua genialidade ou por um tremendo esforço próprio. Não deveria ser assim. Porque o objetivo de qualquer curso de licenciatura é formar professores, e não uma casta de gênios (que depois faz mestrado, doutorado, pós-doutorado). Sejamos pragmáticos!
Afinal de contas, que dificuldade há em se ensinar matemática? Eu mesmo, com formação superior em Ciências Contábeis, teria bastante facilidade em lecionar matemática no ensino fundamental. Dessa maneira, o baixíssimo nível de aproveitamento não se justifica. Ou será que os alunos são tão incapazes assim? (Se afirmativo; então, o que dizer do vestibular?).
Pois bem, professores universitários, desculpem-me a sinceridade, mas, embora existam outros fatores que contribuem para a evasão e para a reprovação, certamente deve haver algo errado também no ensino. Ou não? Observem o resultado do ENADE! Façam uma reflexão...  Ora, um curso de licenciatura desse tipo – que não cumpre o objetivo de formar uma quantidade satisfatória de professores – é um prejuízo enorme aos cofres públicos, a relação custo benefício é completamente desfavorável.
Portanto, seria melhor nem existir – como contribuinte, sinto-me usurpado, e como auditor que fui durante muito tempo, sinto-me decepcionado pela falta de providências efetivas dos órgãos fiscalizadores. No entanto... Tenho a impressão de que, agora, o sinal amarelo acendeu. Assim, a continuidade do referido curso depende, sobretudo, do empenho de vocês (professores e alunos).


Ednaldo Bezerra é estudante de Licenciatura em Letras da UFPE

Um comentário:

  1. No título, onde se lê "Matamática", leia-se "Matemática",

    ResponderExcluir

Caro leitor, seja educado em seu comentário. O Blog Opinião reserva-se o direito de não publicar comentários de conteúdo difamatório e ofensivo, como também os que contenham palavras de baixo calão. Solicitamos a gentileza de colocarem o nome e sobrenome mesmo quando escolherem a opção anônimo. Pedimos respeito pela opinião alheia, mesmo que não concordemos com tudo que se diz.
Agradecemos a sua participação!

NOSSOS LEITORES PELO MUNDO!